- Com licença?
- Pois não.
- Eu sou oficial de justiça e vim entregar uma intimação.
- Mas... Como assim? Isto aqui é um VELÓRIO!
- Eu sei.
- E o senhor vem aqui, em pleno velório, entregar uma intimação?
- Sim. Eu entendo a situação, mas...
- Mas o quê?
- Mas é minha obrigação entregar.
- Quem mandou entregar essa intimação?
- Foi o Doutor Alexandre.
- Ah, o Doutor Alexandre...
- Isso mesmo.
- Tinha que ser coisa do Doutor Alexandre.
- Pois é.
- E... Eu posso saber a quem é dirigida essa intimação?
- Claro. Ao senhor... Plácido Inocêncio Calado.
- O QUÊ?! AO FALECIDO?! Aí, não! O senhor está de sacanagem!
- Não estou, não.
- COMO se pode entregar uma intimação a um defunto?
- Bem, o Doutor Alexandre...
- O Doutor Alexandre é um AMORAL!
- Moraes.
- Hein?
- Não é AMORAL. É MORAES.
- É. Os dois.
- Como disse?
- E como é que o Doutor Alexandre espera que o falecido assine o recebimento da intimação?
- Ele VAI TER que assinar. É uma ordem do Doutor Alexandre.
- E...?
- E ele VAI TER que assinar.
- Mas o cara MORREU!
- Isto não pode ser um impeditivo.
- COMO NÃO? É um impeditivo definitivo! O CARA MO-RREU! (Permita-me colocar os dois erres na mesma sílaba, embora errado, por uma questão de ênfase.)
- A propósito, o senhor é quem, afinal?
- Sou amigo de infância do finado.
- E o que o senhor faz aqui?
- Ora, eu vim prestar a minha última homenagem a ele.
- Então faça a gentileza de o convencer a assinar o recebimento da intimação.
- Mas COMO? Se o cara está MORTO!
- O senhor é que é amigo dele. Deve saber como.
- Olha, oficial, esta conversa de maluco está tomando um rumo muito esquisito.
- Esquisito para o senhor. Eu vim aqui cumprir uma ordem do...
- Doutor Alexandre.
- E ordem do Doutor Alexandre, o senhor sabe, não se discute, se cumpre.
- E eu com isso, meu caro?
- Eu posso lhe dar voz de prisão por obstrução da justiça, se o senhor não cumprir a determinação de fazer com que o seu amigo de infância assine o recebimento da intimação.
- Eu?! Voz de prisão? Por não obrigar o falecido a assinar um papel? O senhor é louco!
- Eu não! Mas o Doutor Alexandre...
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